Aborto Retido: Uma Experiência Dolorosa que vivi há mais de 10 anos e ainda me faz sofrer praticamente todos os dias.

O aborto retido, também conhecido como aborto incompleto com feto morto retido, é uma experiência avassaladora. O aborto retido, embora não seja muito discutido, afeta muitas mulheres em todo o mundo e traz não apenas implicações médicas, mas também alterações psicológicas significativas para as mulheres e suas famílias.

 

O Que é Aborto Retido?

 

O aborto retido ocorre quando um embrião ou feto para de se desenvolver, mas não é expelido do útero. Isso pode ser diagnosticado por meio de ultrassonografia, quando não há batimento cardíaco fetal detectável ou crescimento fetal adequado em relação ao estágio de gestação. Muitas vezes, a mulher não experimenta sintomas óbvios, como sangramento vaginal, o que torna o diagnóstico ainda mais angustiante.

 

A descoberta do Aborto Retido

 

Comigo foi assim, não tive sintomas óbvios e claros. Quando estava tomando banho para a consulta com o ginecologista para fazer a US, pude sentir a minha barriga morta. Não sei bem como explicar, mas acredito que quem já ficou grávida consegue entender. Quando ficamos grávidas, mesmo sem sentir o bebe, nós conseguimos sentir a barriga viva.

Comentei com o meu ex que estava sentindo a minha barriga morta durante o banho e o que ouvi foi “você nunca teve filhos, não sabe o que está dizendo”. Tratava-se de um relacionamento abusivo, no entanto eu ainda não havia percebido e deixarei esse capítulo para um outro momento.

O médico constatou durante a consulta que não havia mais batimentos cardíacos. Aquilo foi um choque. Senti meu mundo desmoronar.

Voltei para casa com a orientação de que deveria aguardar o corpo expelir naturalmente, contudo isso não aconteceu. Foram 10 dias aguardando com um corpo morto dentro de mim.

Retornei ao médico que me receitou aquele tão temido comprimido e foi aí que durante 9 horas de uma madrugada de uma sexta-feira para um sábado eu pari o meu filho morto. O processo teve início às 21h de uma sexta-feira e finalizou as 7h da manhã do sábado.

 

A maior dor

 

As pessoas perguntam se eu senti muita dor. Dói até hoje, mesmo depois de 10 anos.

Eu nunca tinha ouvido falar em Aborto Retido até viver a minha própria experiência. Por viver atormentada resolvi dar início ao meu blog contando a triste história que tem o poder de me manter 70% congelada no tempo. Os outros 30% é o que resiste de mim avançando da maneira que é possível ao longo desses anos.

O aborto retido causa um impacto emocional que pode ser profundo e duradouro. Eu experimentei e ainda experimento uma mistura de tristeza, raiva, culpa e desespero. Hoje sou uma pessoa extremamente reativa, ansiosa e muitas vezes deprimida com o processo de luto eterno pela perda de uma gravidez desejada (apenas por mim).

 

Quebrando um tabu

 

É primordial que as mulheres que passam por um aborto retido recebam apoio médico, emocional e psicológico adequado. Que tenham suporte de familiares e amigos, e acompanhamento médico para garantir a saúde física e emocional da mulher.

Eu não tive esse apoio. Após perder o meu filho ainda permaneci quase 2 anos presa em uma relação abusiva longe de parentes e amigos. Fui sobrevivendo só, mergulhando em trabalhos de domingo a domingo, sem vida social, sem praticar exercícios chegando a engordar quase 40kg.  

Apesar de ser uma experiência dolorosa e comum, o aborto retido muitas vezes é envolto em silêncio e estigma. É essencial promovermos a conscientização sobre o aborto retido, para que as mulheres não se sintam isoladas em sua dor e possam acessar os recursos necessários para se recuperarem física e emocionalmente.

 

Decepção

 

Lembro-me de ter escutado de uma grande amiga quando conversávamos sobre gestação, falávamos da sensação única e maravilhosa de estar grávida quando ela concluiu com: “Você não vai saber porque é preciso sentir.” Aquilo foi como uma exclusão. Até hoje eu não consigo participar de diálogos como esse com outras mulheres. Não acho que vou ser aceita ou que terei credibilidade.

Por breves segundos imaginei que pudesse fazer parte de um grupo, no entanto percebi que estava enganada. Ao ouvir essa colocação partindo de uma grande amiga, que conhecia a minha história, o que eu senti mesmo foi uma dor imensa, mas calei. Apenas concordei e calei. Nunca senti o calor da obra final em meus braços. Não amamentei. Senti muitas dores nos seios mas ainda assim, “Talvez eu realmente não soubesse como é.” Não tive esse merecimento. Não cheguei até o final. Eu não sei como é estar grávida.

Ocorre que me dói atestar isso. É como se eu negasse o filho que tive. É como seu negasse tudo o que imaginei, sonhei e planejei para o filho que eu tive. Para mim é inconcebível. Não consigo excluir esse filho da minha história. Por alguns meses eu soube o que era caminhar sem estar só. Eu conversava com o meu filho. Como é que alguém pode me negar isso? Com que direito?

 

Suporte e tratamento

 

A mulher que sofre um aborto retido vive uma realidade muito difícil. Além dos desafios médicos, suas consequências emocionais e psicológicas são igualmente significativas. Portanto, é fundamental que haja mais discussões abertas e apoio disponível para mulheres que enfrentam essa perda, para que possam encontrar esperança, cura e solidariedade em sua longa caminhada para a recuperação.

                                                                                                                                            

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